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O suicídio de Durkheim

A depressão e a baixa estima são consequências das agressões virtuais que geram traumas.
As agressões podem ter consequências irreversíveis na vida da vítima. Quando ocorridas na infância podem desencadear dificuldades de aprendizagem e transtornos psicológicos, comprometendo o seu desenvolvimento e podendo acarretar em problemas futuros como comportamentos antissociais e dificuldade de manter uma relação afetiva.
Esses fatores somados com a dificuldade de lidar com a pressão, muitas vezes pode levar ao suicídio, que é uma forma encontrada de colocar um fim à perseguição. Se os suicídios puderem ser explicados apenas por fatores psicológicos, acabamos assim desresponsabilizando a sociedade, porém se formos atribuir a causa à fatores sociais, caímos na teoria do sociólogo francês Émile Durkheim. 
No livro escrito no século 19, chamado O Suicídio, Durkheim o explica como “todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”. Segundo sua etimologia, existem três tipos de suicídio: o egoísta, o altruísta e o anômico.
No egoísta, a relação entre indivíduos e a sociedade se afrouxa fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver. A exclusão social é um exemplo claro dessa situação.
No altruísta, o indivíduo sente como se obedecesse ordens sociais que funcionam como coerção do coletivo e age dessa forma pois pensa estar beneficiando o restante da população. Exemplo disso são sentimentos patrióticos ou até mesmo ataques terroristas do extremismo religioso, como os homens bomba. 
No anômico, algum fato faz com que a taxa de suicídio cresça muito em curto período, mudança abrupta nacional ou mundial como por exemplo a crise econômica. 

O cyberbullying está na categoria de suicídio egoísta de acordo com o sociólogo, pois é construído a partir da sensação de isolamento dos grupos. Portanto, assim como os outros dois tipos, são unicamente causados pela influência social. 
Em 1897 não havia internet, mas já havia a teoria que mostrava que o suicídio pode mesmo ser causado por sentimentos de solidão e exclusão. Com o surgimento de mídias e redes, isso se intensificou e é cada dia mais fácil se sentir vazio e reprimido. 

Depois de estudar Durkheim, você ainda consegue pensar que ele/ela se matou "só por causa disso"? 

Espelho negro

Contém spoiler
A série Black Mirror foi feita com o objetivo de mostrar o reflexo de uma sociedade altamente tecnológica, mas dessa vez, com um gostinho amargo de engolir.
Sabemos de todos os benefícios que traz a internet e dos bons feitores que a acompanham, mas sabemos realmente os níveis mais extremos de prejuízo que podem acarretar para a sociedade?
O episódio "Odiados pela nação" faz ponte direta entre cyberbullying e tecnologia. Pessoas de todo os locais do mundo, quando tomam atitudes consideradas "ruins" pelo restante dos internautas, viram alvos da hashtag #DeathTo (morte para) no Twitter.
Misteriosamente, as pessoas mais odiadas, portanto, as mais mencionadas pela hashtag, morrem.
Podemos interpretar esse fato tanto ao pé da letra, (a tecnologia chega em um estágio de tomada de decisões onde escolhe quem vive e quem morre, precisando minimamente da supervisão humana) ou podemos olhar como representação das consequências de mensagens de ódio para pessoas que se consideram "desenvolvidas" por tudo que fizeram cientificamente falando, mas acabam praticando o falso moralismo e tirando uma vida.
Ambas mostram que uma hashtag que pede a morte de alguém pode realmente tornar isso uma realidade, seja em um assassinato na ficção, ou em um suicídio da vida real, porque afinal, se milhões de pessoas desejam a minha morte, no fim do dia eu posso desejá-la também.
Para algumas pessoas, não são necessárias milhares de ofensas de milhares de pessoas para que a mesma perca a vontade de viver. Apenas uma ofensa de uma pessoa pode ser o suficiente.
Será que esse espelho está a anos de distância do nosso cotidiano, ou apenas alguns passos?
Se ainda não viu a série ou esse episódio, assista e nos conte o que achou do texto e da relação com a perseguição virtual!




Formando indivíduos

A adolescência é o período de transformação mais intenso da vida do indivíduo. As mudanças são biológicas, cognitivas e sociais. Na capacidade cognitiva, os adolescentes formam opiniões e o senso de crítica a respeito do mundo. Na dimensão social, esse garoto ou garota enfrenta pressão acerca de quem ele /ela é e de quem quer ser. A descoberta de mundo que pode ou não decepcioná-lo (a), a expectativa e demanda que recai sobre ele. No âmbito biológico, o desenvolvimento que conhecemos como puberdade modifica o corpo todo, e até o cérebro. A fase em que os “hormônios estão à flor da pele”. O adolescente contemporâneo, além de todos esses fatores, vive a realidade da tecnologia que evolui a cada dia. Tirando o tempo que passa na escola, dispõe da maior parte do restante para o uso de dispositivos móveis e da internet, portanto, grande parte da realidade é virtual. Esse mergulho no ambiente online traz um desafio para a escola e para os pais: controlar a violência virtual que os colegas cometem um contra o outro e que muitas vezes cometem contra os professores. De acordo com enquete realizada pelo próprio grupo, cujo o total de respostas foi de 206 pessoas, aproximadamente 62% tinha de 10 a 15 anos quando sofreu o episódio de bullying virtual, ou seja, a maioria frequentava o ensino fundamental. Por essa razão, nosso grupo conversou com JozimeireStocco, doutora em educação e diretora geral do Colégio Stocco, que atua na formação de crianças e adolescentes dessa faixa etária. Jozi conta que trabalha com a integração entre a educação e a tecnologia, ou seja, pensa que ambos devem caminhar juntos, pois reconhece seus benefícios. Ao incorporar as tecnologias móveis, o Colégio adotou estratégias para a conscientização do uso . O colégio acrescentou IPad na lista de materiais para os estudantes e realizou palestras para os mesmos, para a família e professores com autoridades da esfera do direito e da área de comunicação para passar a ideologia do uso sábio da internet. Os palestrantes mostraram a visão dos rastros que são deixados na rede,crimes virtuais, punição legal, etc. O uso dos IPads é monitorado para que sejam utilizados apenas para fins educacionais durante as aulas. A diretora também explica que os riscos diminuem quando há conscientização recorrente, e não apenas pontual: “Essa educação tem que ocorrer no dia a dia, por meio de diversas ações, como as palestras coletivas, ações individualizadas de orientação, inclusive de advertência se forem necessárias. Devemos mostrar os benefícios que a internet traz, mas também o que ela ocasiona, por isso é tão importante que eles aprendam a se proteger.”. Jozi enfatiza que o colégio precisa estabelecer um vínculo com a família, no caso do Stocco por exemplo, realizam palestras, eventos e reuniões, para que sempre que forem notados problemas comportamentais, haja uma parceria forte para resolver. “Nem a escola e nem as famílias conseguem educar sozinhos. Temos controle enquanto o estudante está dentro da escola, a partir do momento que toca o sinal, a família necessita ficar atenta com o uso de dispositivos.” O cuidado que os orientadores tomam para preservar o assédio virtual, segundo Jozi, é acompanhamento, supervisão, acolhimento e carinho para impedir que determinadas situações venham a prejudicá-los futuramente . Por essa razão, o colégio e as famílias precisam estabelecer limites a fim de que as crianças fiquem um passo mais perto de um ambiente pacífico, com respeito acima de tudo.

O olhar da psicologia

Com o crescente e intenso uso das redes sociais, as pessoas levaram para o ambiente virtual as relações interpessoais, convivendo menos presencialmente umas com as outras, tornando esses relacionamentos superficiais. Camila Teodoro Godinho (31), formada pela Universidade Metodista de SP em 2009, e especialista em terapia comportamental pela USP, cedeu entrevista, e contou seu olhar como profissional na área, a respeito do cyberbullying. “O cyberbullying traz diversos danos psicológicos a adolescentes e adultos, pois carregam o peso de não se enquadrarem aos padrões estabelecidos pelo que as pessoas postam ou que consideram ser o correto”. Desta forma, o adolescente passa a buscar aquilo que não tem, e o que não é, para se sentir parte do grupo, e as consequências dessa procura pode causar transtornos psicológicos, traumas, sentimento de rejeição e humilhação. Mas a questão é: As pessoas tem procurado ajuda profissional? Esses danos causados nas mentes dos jovens são reversíveis? A psicóloga conta que hoje os adolescentes tem uma ideia mais clara do que é terapia psicológica e aceitam mais facilmente passar em sessão. “Eu mesma já atendi diversos que trazem seus medos, angústias e aprendem a lidar melhor com esse mundo socialmente construído de forma capitalista”. O autor do bullying não só sente prazer em diminuir o outro, como também se sente superior, caracterizando o praticante como uma pessoa individualista e egocêntrica. E essas ações são um reflexo da sociedade, que divide os bons dos maus, e os certos dos que não se encaixam. Diante de tudo isso, sabemos que existe solução tanto para o praticante do cyberbullying, quanto para o autor. Nosso país está cheio de profissionais capacitados, como a Camila, prontos a te ajudar a inventar outra história. Portanto não seja espectador do cyberbullying, não colabore para a destruição da autoestima de alguém e não fique parado. Denuncie.
 Clique aqui para ler a entrevista
 Texto: Fernanda Hernandes

Entrevista Ping Pong com Camila Teodoro

P: O tema abordado é cyberbullying, e eu gostaria de saber qual o seu olhar como profissional da psicologia. Como você acha que isso tem afetado a vida das pessoas que sofrem? Quais os danos causados? R: Todos nós somos seres humanos e convivemos em sociedade. Algumas pessoas convivem de forma mais natural, outras tem determinadas dificuldades que as impedem de viver plenamente este convívio. Com o surgimento das tecnologias e utilização em massa das redes sociais, as pessoas passaram a conviver menos umas com as outras presencialmente, e isso dificulta a troca de afetividade e verdade sobre si. Desta forma, as relações se tornam artificiais, pois estão sempre buscando a perfeição, e no momento em que percebe-se que não é possível estar sempre dentro dos padrões estabelecidos é que começa a ocorrer o cyberbullying. O cyberbullying trás diversos danos psicológicos a adolescentes e adultos, pois carregam o peso de não se enquadrarem aos padrões estabelecidos pelo que as pessoas postam ou que consideram ser o correto. Desta forma inicia-se uma busca pelo que é "aceitável" e é ai que os problemas iniciam. As pessoas passam a viver nesta busca incessante pelo que não pode acessar ou até conseguir. As consequências podem ser avassaladoras, visto que podem ocorrer traumas e transtornos psicológicos causados por tais situações. P: Você acha que os adolescentes têm procurado ajuda como algum tipo de tratamento pra superar esses danos psicológicos ? R: Adolescentes hoje tem uma ideia bem mais clara do que é terapia psicológica, e aceitam mais facilmente passar em sessão. Eu mesma já atendi diversos que trazem seus medos, angústias e aprendem a lidar melhor com esse "mundo socialmente" construído de forma capitalista. P: E você tem alguma ideia de como essas pessoas que cometem cyberbullying se sentem? R: Essas pessoas querem se sobressair sobre as outras, e também sentem prazer em diminuir o outro. As pessoas que cometem bullying e cyberbullyin são pessoas muito narcísicas no sentido de que o meu é melhor. Então, eu zoo você porque assim eu me sinto muito melhor, é prazeroso e eu me torno "vencedor" enquanto você é o "perdedor". Sem contar algumas metodologias que algumas escolas utilizam. Muitas delas fazem competição com seus alunos, da melhor nota para a pior, e aí os alunos que não são tão bons assim sempre ficam no final da fila. As escolas não estarem preparadas e não trabalhar essa questão com os alunos é um problema P: Existiu algum caso, ou em que caso vc precisa alertar a familia? Porque sabemos que as consultas são mantidas em sigilo. R: Ainda não. As consultas são mantidas em sigilo, mas quando é criança e adolescente e está ocorrendo algo muito grave nós fazemos um trabalho de conscientização para que ele entenda que é muito importante que a família dele saiba o que está acontecendo para ajuda-lo também. Então geralmente eles aceitam, e a gente conversa junto com a família dele sobre esse problema grave que está acontecendo, então não é quebra de sigilo porque pedimos permissão para o adolescente, respeitando assim o nosso código de ética e também o estatuto da criança e do adolescente (ECA).

Crônica: A realidade de quem sofre cyberbullying

Foto por Gabriel Vento


Lívia conversava com algumas colegas no pátio da escola, quando foi surpreendida por um garoto novo, que acabara que chegar no colégio, dava pra notar todos conversando sobre ele pelos cantos, se perguntavam de onde vinha, sua idade, queriam saber tudo. Logo todas as garotas ja estavam aos seus pés, inclusive Lívia.
   Ela se aproximou, pois como todos, queria saber mais sobre o garoto novo, ele, muito simpático foi bem receptivo e, então, começaram a conversar.O garoto era bonito e galanteador, não era apenas por ser novo na escola que causou tamanho alvoroço.
   Lívia sempre foi muito apaixonada, não precisava de muito para se envolver emocionalmente com alguém, além do mais não era qualquer alguém, ela sentia uma conexão especial. Começaram a conversar e perceberam que tinham muitas coisas em comum, ele tocava violão, e ela amava música, eram perfeitos um para o outro.
   As outras garotas da escola a invejavam, todas o queriam e ela parecia ter sido a escolhida. Começaram, então, um relacionamento, eram felizes juntos, apesar de serem muito jovens, mantinham uma relação madura que parecia que ia durar.
   A maioria das garotas do colégio ja tinha esquecido ele, era apenas uma paixãozinha do momento, porém, uma delas não se conformava com tal situação, pensava que ela era a pessoa perfeita para ele, e não Lívia, então, começou a espalhar boatos sobre ela, para que chegassem aos ouvidos dele.
   A escola toda falava de Lívia, mas ele não se importava, sabia com quem se relacionava e confiava nela. Ela por sua vez não aguentava mais os boatos, e foi se afastando cada vez mais das pessoas, perdendo a vontade de ir para a escola. O que lhe confortava é que ele se mantinha ao seu lado, e aos finais de semana estava livre daquela situação.
   A relação entre eles estava sólida, e resolveram dar um passo a mais, Lívia não queria, mas ele insistiu em registrar o momento.
   A garota ainda pensava em como infernizar mais a vida de Lívia, quando teve uma idéia, fez uma montagem de uma nude qualquer e fez parecer que era dela de uma conversa com outro garoto, e enviou para a escola toda.
   O namorado de Lívia sempre estava ao seu lado, mas, dessa vez, não poderia perdoar uma traição. Furioso e sentindo-se traído, para se vingar, divulgou o vídeo íntimo que havia gravado em sua página no Facebook, com inúmeros xingamentos para Lívia.
   Ela, já desestabilizada com o término do namoro e falsas nudes na internet, agora tinha que lidar com um vídeo íntimo seu na rede. Ela não tinha para onde fugir, a perseguição foi além do ambiente escolar, alguns na rua a conheciam, e nas redes sociais recebia várias mensagens de ódio, xingamentos e alguns até desejavam que ela morresse.
   Lívia se via em um beco sem saída, ela estava em estado depressivo, não tinha vontade de fazer nada, muito menos ir para a escola, não tinha contado nada aos seus pais, mas sabia que alguma hora iriam descobrir.
   Ela se sentia sozinha, a pior pessoa do mundo, que ninguém a amava ou se importava com ela, todos os seus planos e sonhos para o futuro tinham ido por água a baixo, ela não queria mais sentir o vazio que estava sentindo, foi então que decidiu tirar a própria vida. Parecia a melhor saída.
   Ela faltou à escola naquele dia, seus pais perceberam algo diferente em seu comportamento, mas pensaram que ela apenas estava triste pelo término do namoro, e que logo ia passar, ela esperou eles saíram e tomou alguns remédios que haviam na cabeceira de sua mãe.
   Ela teve sorte, apesar de ficar muito mal, os remédios não foram letais, seus pais ja haviam descoberto os motivos pelo qual ela havia tentado se matar, se culpavam por não dar mais atenção ao que se passava na vida de sua filha, mas ao descobrirem lhe deram atenção exclusiva, conversaram com ela e queria que tivesse acompanhamento psicológico.
Ela aceitou a ajuda, sempre foi uma garota centrada e segura de si mesma, mal podia acreditar em como o cyberbullying havia transformado sua vida.
Resolveram denunciar toda a ação com os prints das mensagens ofensivas à Polícia Civil, esperando que fossem tomadas as providências adequadas na questão de crime virtual.
   Lívia se tratava e recuperava sua vida antiga aos poucos, voltava a ser a pessoa que era antes, tinha sorte de contar com o apoio dos pais, e percebeu que podia ter feito uma grande burrada tirando sua vida, que haviam pessoas que a amavam verdadeiramente e que se importavam com ela, sua família.
   Apesar de praticamente recuperada, o cyberbullying sempre vai ser um passado sombrio em sua vida, uma lembraça de dor e violência, algo que marcará sua história para sempre. Pois, por mais que as feridas se curem, sempre haverá as cicatrizes, para não deixar esquecer o mal que ela sofreu no passado.

Texto: Mayne Cristina